quinta-feira, 5 de junho de 2014

O maior Cowboy da cidade

Vejo o Sr. Carlos descendo a rua. Acompanho - com o olhar atento - seu passo tranquilo, o sorriso estampado e o ar sereno em sua volta. Ele, baixinho e robusto, estende a mão assim que me encontra. Depois de uma breve narrativa sobre seu afazeres da manhã e, claro, uma xícara de café, ele prende minha atenção ao falar da cidade de São Paulo.

Contou-me sobre sua atividade como eletricista iniciada na década de 1970, onde teve a oportunidade de trabalhar para o jornalista Giba Um - jornalista esse que conheci através de uma apresentação de trabalho na faculdade. Suas aventuras e desventuras na "cidade grande", como gosta de dizer, o levou para diversos lugares e lhe rendeu boas histórias.

Seu assunto favorito é cinema, e nesse quadro me encaixo fácil e perfeitamente. Fã de John Wayne, confessa que um dos seus filmes favoritos é A Balada do Pistoleiro. "Aquele em que o Bandeiras vai matar todo mundo", enfatiza. Outro de seus favoritos, que também não conta com Wayne, é Winchester'73, o qual ele narra do inicio ao fim, sempre deixando seus óculos escorregarem até a ponta do nariz e, com um olhar de seriedade visto acima da armação metálica, destaca as cenas importantes que definem o filme. "Os filmes de Wayne não são os melhores, mas além de um grande ator, ao meu ver, ele foi um bom homem", explica suas preferências adversas.

Mas a história não é contada apenas por ele, ajudando sua narrativa alguns transeuntes delatavam seus feitos. Um desses, ao ouvir-nos falar sobre o bang-bang do velho oeste, afirmou que o Sr. Carlos - chamado de Kaká pelos amigos - poderia muito bem fazer parte de um filme desses. Em suas rotineiras pescas com os amigos, pelo interior da cidade, "o Kaká estava sempre preparado, enquanto todos dormiam ele ficava acordado na fogueira, com o facão na mão e sua Tauros [pistola] do lado".

Infelizmente a conversa não foi gravada e com a minha péssima memória, não consigo extrair muitas outras histórias que foram contadas, mas o que mais me chamou a atenção foi saber que existe um cowboy por ai, solitário e altruísta, que carrega consigo não uma pistola, mas muitas histórias para contar.

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