segunda-feira, 27 de abril de 2020

21 de junho de 2013

Seu coração era alvi-verde, isso ninguém podia negar. Estava na cara, no grito de "goooool! Alex, do Palmeiras" no futebol na rua. Na oração a São Marcos na hora de defender o pênalti no muro da vizinha. Ninguém negava que era alvi-verde. Porque era uma festa quando o time ganhava: "esse ano é tudo nosso". Era as lágrimas quando o jogo não dava certo. Dizia que o lateral não deveria ter jogado tão recuado "tá chamando o outro time", ou era o atacante que tinha o pé torto.

Foi um ano difícil aquele 2003. Mas era alvi-verde, sem dúvida. Aguentou a zombaria de cabeça erguida. Não ligou para os gritos de "ão, ão, ão, segunda divisão". O que importava era acompanhar o time, na TV ou no rádio. Ser da torcida que canta e vibra. E teve aquele dia, lá pro meio do ano, 21 de junho, para ser exato. O Palestra estava lotado. Quase 28 mil torcedores. E ele estava lá, com sua camisa Parmalat, aquela que comprou em 98 e viu que aquilo era pra valer, era a paixão que levaria para a vida. Foi a primeira vez que sentiu aquela sensação que ninguém sabe explicar. A torcida gritando. A bateria tocando. Não dá para explicar.

Então surgiu uma coisa estranha. Uma admiração, um carinho. Quem viu sabe que não foi dos melhores jogos. Faltou inspiração. Decisão. O resultado refletiu bem o que aconteceu dentro de campo. Um 0x0 apagado, sem muita graça. Mas o que não faltava era emoção. Contaria essa história toda vida. A melhor história que o futebol já teve, poderia jurar que era. E dessa grande história surgiu o carinho pelo adversário. Descobriu que poderia ser alvi-verde e, ainda assim, gostar de um outro time. Percebeu de essa rixa de torcida é besteira, falta do que fazer. E em todas as discussões sempre ficou do lado da risada, independente da chacota. E quando perguntaram "por que você comprou uma camisa do Botafogo?" ele só riu e disse que a história era longa demais, precisaria de resumir 16 anos em alguns minutos. 

Há quem duvide que ele é alvi-verde. Mas ele sabe que ainda hoje, as cores estão atreladas a ele. Aquelas cores, que causam risos e lágrimas. E se hoje veste uma camisa do Botafogo, é porque já sabe bem quem é, porque a pele já está marcada, a história já está escrita. Seu coração é alvi-verde, mas seu espírito é boleiro e nostálgico, não nega nenhuma emoção do futebol bem jogado.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Atlântico Sul | Vitor Isensse


"Mãe, Pai
Obrigado por mais esse dia!
Obrigado por mais essa oportunidade de estar aqui
Vivo, crescendo, me melhorando e aprendendo

Agradeço pela saúde do meu corpo
Pelo abrigo, o alimento, o trabalho
Pelo amor de minhas amigas
Meus amigos e familiares

Harari, no “Sapiens”, explicou a humanidade
Só não conseguiu explicar o Amor
Karl Marx e Adam Smith desenvolveram teorias perfeitas
Mas talvez não tenham levado em consideração
O egoísmo e a mediocridade dos humanos
A selfie mostra o sorriso
Só não revela o turbilhão de sentimentos
Niezetch disse que Deus está morto
Mas talvez não tenha cogitado
Que a vida possa ser
Ela própria
A Divindade

Peço a Ti
Dai-me muita saúde
Muito Amor-próprio, muita autoestima
Força de vontade, clareza de pensamento
Respeito por mim mesmo e pelos outros

Protege minha casa
Protege meu trabalho
Guia meu corpo
Meu pensamento e meu falar

Ajuda-me a criar meu próprio céu
Para a eterna felicidade da humanidade

Pois mil poemas escreveu a poeta
Mil gols marcou o craque
Mil mil dólares ostentou o magnata
Mil mantras repetiu o iogue
De nada adiantou

Mil vezes chamei um nome
Mil litros bebeu o alcóolatra
Mil doações fez a filantropa
Mil castigos infligiram os pais
Mil nuvens furou a aviadora
Mil fotos postou a blogueira
Mil pessoas seduziu o sedutor

De nada adiantou
Queriam moldar a Vida
Mas a Vida seguiu
Soberana

No canto do passarinho
Na mão que toca o piano
Dentro do redemoinho
No acerto, no erro, no engano

Vida
E nada mais"