sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Do alto do telhado (Aquilo que você queria saber sobre suicídio, mas teve medo de provar)

Suicídio sm 1. Ato ou efeito de suicidar-se; 2. fig autodestruição; perdição procurada espontaneamente.
Suicidar-se vp 1. Matar-se a si próprio; 2. fig perder-se por sua própria culpa.
Suicida (u-i) s 2 gên 1. Pessoa que se suicidou; adj 2 gên 2. Que serviu para realizar o suicídio.

"Suicídio
Autocídio. Morte de uma pessoa, conscientemente provocada por ela. Não constitui infração penal, embora seja ato ilícito, porque a vida é bem jurídico indisponível. A orientação da lei é inspirada por razões de política criminal, a fim de estimular a pessoa que, em momento de instabilidade emocional, execute (ou tente) o ato extremo, superando o instinto de conservação. Hoje, são poucas as legislações que mantêm a incriminação de conduta. Todavia, constitui crime contra a vida, induzir, instigar ou prestar auxílio ao suicídio. Vide auxílio ao suicídio. Vide instigação ao suicídio."

Medida extrema..

Lá estava eu, esperando. De repente fez-se o caos, pessoas gritando, sirenes tocando, trânsito parando. Era um alvoroço e tanto, até a velha que não enxergava estava olhando. Os dedos apontavam para cima, o gesto que um dia fora repreendido pelos pais mostrava o clímax do dia. Era um homem. De cima da cancela seus olhos encontravam o chão, provavelmente carregava em sua alma angústias, dúvidas e questionamentos. Os bombeiros já deviam estar subindo as escadas, pois a sirene de seus veículos a algum tempo soava. Eu imaginava qual seria o mistério. Enquanto a plateia lá em baixo incentivava o pobre infeliz. Pessoas não paravam de chegar, sem nem saber qual era a situação, eles se acoplavam a massa que cantava em um só coro. O incentivo ao pulo era constante. Pobre homem.

Os bombeiros começaram seu trabalho rapidamente. Eu tentava adivinhar quais eram as perguntas e, ainda mais, quais seriam as respostas. Uma pergunta errada, um movimento falho, e tudo chegaria ao fim. As pessoas continuavam o seu canto rítmico incentivando o salto. Era uma multidão contra três. Porém, cada um desses três valia por uma multidão muito maior do que aquela que se aglomerava na rua. Um passo a frente. Não se arriscaria em dar o segundo, o jogo era arriscado demais. Cada pergunta envolvia centímetros, em casos como esse cada centímetro é importante. Cada centímetro era uma chance.

O homem grita algo e vira em direção a rua. Se prepara para o salto. De longe, um dos bombeiros corre em sua direção. Lá em baixo os olhos brilham, certos do que vai acontecer. O homem salta... Os segundos que ele passa no ar parecem horas. Horas intermináveis. Abre os braços como se esses fossem asas. Evitei olhar, mas sabia o que temer. Escuto o silêncio, parece que o mundo parou. Não há buzinas, gritos, nem mesmo suspiros. Só o vazio. Não posso olhar. Não quero olhar. Não devo olhar. E então o silêncio da vazão ao insulto, quase um desespero. Olho para o alto do prédio e vejo um bombeiro pendurado com o homem nos braços. Uma cena que seria assustadora se não fosse tão boa.

As pessoas vão se dispersando. Se preparando para chegar em casa e contar que um homem quase tirou a própria vida. “Um grande espetáculo”, elas diriam. Insatisfeitas, claro. Suas histórias não seriam tão boas assim. Quanto ao homem? Uma nova chance para tentar viver, ou subir no alto de outro prédio no dia seguinte. Quem vai saber? Talvez da próxima vez ele seja mais objetivo e menos hesitante. Mesmo isso tirando toda a sua diversão.

Eu continuo esperando...