terça-feira, 1 de abril de 2014

Kotscho e Dimenstein, as aventuras e desventuras da reportagem

Um livro, dois jornalistas e muitas histórias


Quem melhor para falar de reportagem se não dois grandes jornalistas. Embora existam muitos por ai, são poucos os que fazem jus à sua profissão, que tratam o jornalismo como um serviço a ser prestado e não uma maneira de ganhar status. Entre esses poucos, estão Ricardo Kotscho – atualmente, comentarista do Jornal da Record News e repórter especial da Revista Brasileiros – e Gilberto Dimenstein ­– aposentado após trabalha 28 anos na Folha de S.Paulo.

Esses dois repórteres se encontram em “A Aventura da Reportagem” (Editora Summus, São Paulo, 1990), um livro que apresenta suas aventuras e desventuras na difícil jornada que é ser jornalista. Mas antes de iniciar a leitura, recebemos um daqueles impulsos que agrada a qualquer um, a apresentação de Clóvis Rossi nos mostra o que podemos esperar e é nesse momento em que somos instigados a devorar o livro como se fosse a única oportunidade que teríamos para lê-lo.

A narrativa dos dois autores é prazerosa, um misto de seriedade com diversão. Porém, logo notamos que não carregamos em nossas mãos apenas um livro, mas também uma escola para quem pretender ser jornalista, ou é apenas um bom curioso. Kotscho e Dimenstein tomam todo o cuidado para que o leitor, independente de quem seja, fique bem situação no que é descrito, com isso se iniciam as aulas, onde se aprende o que são as famosas “fontes”, o “falar em off” e o que é fazer notícia.

Kotscho e Dimenstein contam histórias – e quem seria melhor para isso se não dois jornalistas que as fizeram? –, algumas de suas infâncias, quando a mãe de Dimenstein não aceitava sua opção profissional, e outra de seus primeiros macetes, como cobrar mais de quem se finge de “bobo”. Mas a tensão é o que mais se faz presente em suas histórias. Viver a Ditadura Militar certamente não era fácil para muita gente, porém, o jornalista tinha a missão de informar, mas o que ele poderia ou não passar adiante? Qualquer deslize e sua carreira, até mesmo a própria vida, iria por água abaixo. E não era só no Brasil que as coisas apertavam, Kotscho cumpriu mais de um ano de prisão por uma de suas matérias na Alemanha. São adversidades que um jornalista precisa enfrentar e, em meio a isso, buscar a verdade nem sempre é fácil, como é dito no livro, tudo o que conseguimos é “a melhor versão da verdade”.


Com todo o respeito aos profissionais que cuidam para que tudo corra bem dentro de uma redação, tomo emprestado um trecho escrito por Clóvis Rossi na apresentação de “A Aventura da Reportagem” e termino essa resenha, que foi impulsionada mais pelo encantamento da leitura do que por recursos técnicos, com palavras de ouro: “Que me desculpem Vinicius de Moraes, os editores e os redatores, mas repórter é fundamental. É certamente a única função pela qual vale a pena ser jornalista”. E para aquele que pretende ler o livro, verá que agora já se somam quatro idiotas.

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